Ao ler a reportagem “ENFERMARIA ENTRE A VIDA E A MORTE”, publicada na revista Época no dia dezoito de Agosto, descobrimos elementos que caracterizam os estilos de reportagem. A reportagem em si é informativa e utiliza de metáforas. Para iniciar esta análise, podemos destacar características de um texto dissertativo, que se sustém em informações generalizantes e de juízo de valores. São fundamentadas em dados e declarações, possui argumentações do autor, o texto é estruturado (início, meio e fim), conclusivo e lógico.
Podemos encontrar características de uma reportagem de fatos (Fact-story), onde o relato dos acontecimentos é narrado em sucessão, por ordem de importância. O autor narrou o dia-a-dia da enfermaria mostrando os aspectos das salas, dos pacientes e os acontecimentos mais importantes – usando a pirâmide invertida.
No primeiro parágrafo o texto se assemelha ao gênero literário em uma narrativa que mistura elementos descritivos. Vejamos um exemplo:
Encontramos também aspectos de reportagem narrativa documental – Relato documentado, que apresenta os elementos de maneira objetiva, acompanhados de citações (neste caso – declarações, depoimentos) que complementam e esclarecem o assunto tratado. Aproxima-se de pesquisas – dados que conferem fundamentações.
“No início dos anos 70, a psiquiatra Elizabeth Kubler - Ross, conhecida por descrever os estágios do processo de morte, levou Cicely e suas idéias para os Estados Unidos, onde o movimento ganhou força”.
Característica de reportagem dissertativa
No início desta análise foi abordado sobre o aspecto geral desta reportagem – o ato dissertativo. Mesmo possuindo várias características que ainda serão apresentadas, podemos observar que o elemento principal e geral neste texto, foi à dissertação, porque o autor deu base, fez fundamentações, indagações e complementações.
Exemplo:
“Como dizer ao médico para parar no momento em que a morte é iminente e inevitável?...”.
“Podemos fazer nossas próprias regras, mas entre elas não está viver para sempre.”
“Começamos a morrer no exato instante em que começamos a viver”. “E hoje estamos mais mortos do que estávamos ontem.”
“Tornou-se deselegante sofrer em público. Com a desculpa – fornecida pelos outros – de que precisamos de solidão para lidar com a perda...”.
Reportagem de ação (Action-story)
Existem vários trechos que levam o leitor a ser atraído, justamente pelo desenrolar dos acontecimentos, um relato movimentado que permite a visualização de cenas. Como esta reportagem conta a vida de pessoas destinadas a morrer, o autor trabalhou muito bem com as palavras neste aspecto. Permite que o leitor se envolva se emocione e que viva a história intensamente e isto ocorre o tempo toda – nos faz lembrar do que estudamos no texto “Namoros com a literatura” que diz a cerca de elementos que o texto deve possuir: força, clareza, condensação e novidade.
A reportagem de ação trabalha o tempo todo com a força – prende o leitor e o faz ter uma visualização dos fatos.
Reportagem sensacionalista
O fato relatado produz uma sensação intensa, capaz de emocionar ou causar escândalo. Vejamos alguns trechos:
“... Todo dia ela assistia á sogra apodrecendo por dentro, viva.”
“À medida que o buraco aumentava fazer os curativos ia se tornando mais difícil.”
“Quando lavava suas roupas, encontrava ovos e larvas de bichos.”
“Quando a água que a doente bebia começou a entrar pela boca e sair pelo buraco...”
A reportagem sensacionalista[1] possui adjetivações, é totalitário, leva a imprecisão, é audacioso, irreverente, possui questionamentos, mas também pode ser imprecisa, ter erros na apuração, distorção, deturpação e um editorial agressivo.
No caso desta reportagem, não estou dizendo que houve um erro na apuração e nem que ocorreu distorção ou deturpação de informações, porém é de extrema audácia, causa tensão ao leitor e é irreverente.
Exemplos:
“Apodrecer por dentro pode ser uma benção...”.
“Uma doente tem um tumor na coxa esquerda. Apodrece por fora. Uma flor de carne que a cada dia engole um pouco mais dela.”
A reportagem conto
No início da reportagem o texto se aproxima de uma característica interessante, onde o autor começa por particularizar uma ação, escolhendo um personagem para ilustrar o tema que pretende desenvolver. A situação dramatizada serve para abrir a reportagem – incorpora a narração para prender a atenção do leitor.
Exemplo:
“De repente, João Barbosa de Lima começou a rir. Seu corpo devastado pelo câncer se sacudia todo na cama de hospital.”
Neste caso, João Barbosa de Lima seria o personagem e a expressão “... seu corpo devastado pelo câncer se sacudia todo na cama de hospital,” dramatiza a abertura da reportagem. É a narração de uma história com um personagem definido e com uma situação vivenciada.
Existem vários estilos de reportagem – No caso do texto “A ENFERMARIA ENTRE A VIDA E A MORTE”, podemos encontrar uma mistura de elementos e de gêneros jornalísticos. O autor usou muito bem elementos narrativos, descritivos, dissertativo - argumentativo. Ler o drama que ás vezes é sensacionalista, outras vezes moralista com as argumentações da autora, não deixa de ser emocionante, intrigante, tenso, reflexivo.
[1] ANGRIRANI, Danilo. Sensacionalismo na Imprensa. Espreme que sai sangue. Sp.Summus,1995.Coleção Novas Buscas em Comunicação