sexta-feira, 20 de novembro de 2009

SUSTENTABILIDADE CULTURAL:VOCÊ SABE O QUE É ISSO?

Por Nayara Alves
Sustentabilidade cultural ... Afinal, o que seria? O termo tem sido discutido entre alunos e professores da Faculdade Araguaia, em Goiânia, e questionado também quando se trata de meio ambiente.

Nos últimos anos, alguns estudiosos têm relacionado a ‘diversidade cultural’ como a necessidade de provocar os ambientalistas que trabalham de forma restrita com a definição de biodiversidade’. Nesse sentido, um dos objetivos da preservação ambiental seria a de manter as raízes culturais de índios, sertanejos e de outras comunidades, que vivem em comunhão com a natureza. "Os monocultores da cana, por exemplo,deveriam entender que, ao destruir determinado espaço, estão destruindo também a cultura de um povo ou comunidade.
Quando falamos em sustentabilidade cultural, nos referimos a manifestações que estão relacionadas com a vida das pessoas", afirma o sociólogo, jornalista e documentarista Márcio Venício Nunes.

Segundo ele, quando o dinheiro (capital)se faz necessário para preservar uma determinada manifestação cultural, tal realidade significa que sozinha, no seu estado natural, ela não sobrevive. E, portanto, deixa de ser cultura. "O mesmo dinheiro que a destruiu não tem forças para promover o resgate, e nem conseguiria. É como uma espécie viva; depois de extinta, acabou",
argumenta.

Ações sustentáveis e responsáveis

A preservação de patrimônios culturais, investimentos na área turística e em outros setores de atividade – como a educação, por exemplo — são algumas ações com foco na sustentabilidade cultural. Elas buscam democratizar o acesso da população a bens culturais, seja pela recuperação e restauração de obras e acervos que compõem o patrimônio cultural; com a manutenção de museus e registros históricos da cultura brasileira; ou por meio da difusão e leitura de obras literárias e promoção de oficinas de arte e música, com a participação de crianças e jovens.
Esses são projetos que representam ações privadas de interesse público voltados ao segmento cultural.

Formada em Letras e especialista em Literatura, a professora Rita Coni define a sustentabilidade como um termo "amplo e relativamente novo, tanto que não é encontrado com facilidade em dicionários".

Para Rita, a sustentabilidade cultural seria parte da responsabilidade social, "uma vez que a população deve refletir sobre o fato de que a reprodução do capital depende essencialmente da capacidade da humanidade se reproduzir em condições saudáveis".

O Primeiro Encontro de Catira na cidade de Rio Claro, em São Paulo, também pode ser exemplificado como um projeto de apoio à sustentabilidade cultural. O evento visa levar à população o conhecimento desta festa popular, além de registrar a catira como técnica de dança, para que possa, ao longo do tempo, ser repassada a quem desejar.

Violeiro das festas catireiras e divulgador das manifestações culturais na cidade de Uberaba,em Minas Gerais, o diretor artístico Wosley Torquato conta que raramente os dançarinos são remunerados ao se apresentarem.

Para garantir a sobrevivên-cia dos grupos, no entanto, há uma saída: a solicitação de verbas junto aos canais competentes da esfera pública, na área cultural.
Dessa forma, é viável a captação de recursos de empresas privadas – com a contrapartida da isenção fiscal – não apenas para as comunidades catireiras, mas também para representantes de outras manifestações culturais.

A força da tradição

Desde a época do Brasil colonial, nos tempos do tropeirismo, encontramos a catira em nossa história. Trata-se de uma autêntica dança brasileira, presente em diversas regiões do país. Ela é uma das mais antigas representações da alegria, criatividade e, principalmente, da arte do nosso
povo.

Muitas pessoas de origem rural participam das festas levando os mais jovens para conhecerem a tradição de seus pais e avós. Durante esses encontros, há muita vibração ainda nas cavalgadas, provas da argolinha, romarias, concursos de marcha,baliza e tambor, entre outros destaques do folclore regional.

Junior Mureb, de 48 anos, é outro catireiro que promove ‘eventos sustentáveis’. Ele vive no estado do Rio de Janeiro, e lembra que a tradição histórica de fazendas jesuíticas onde portugueses e índios tamoios dançavam e batiam os pés e as mãos: é a catira, iundú ou cateretê. "O Rio de Janeiro abriga a cultura indígena de várias partes do Brasil e também dos negros. Para apresentarem suas danças e outras manifestações culturais, todos realizam pesquisas, fundam associações e lutam por benefícios estaduais paras suas comunidades", destaca.

Mureb reclama que do pouco apoio obtido em órgãos públicos. Apenas as secretarias de agricultura e da cultura é que eventualmente nossos parceiros", sublinha. Para o catireiro, falta preparo e conscientização de crianças e jovens, nas próprias escolas, para a importância das festas e tradições populares não apenas no sentido religioso, mas também como forma de cultura sustentável. "Esses eventos, além de atrativos com sua música, dança e folclore, envolvem a geração de emprego e renda. É muito importante contribuirmos para a preservação desses grupos", arremata.

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