Por Nayara Alves
Para os amantes das representações
cinematográficas é sempre prazeroso ver um filme e olhar não apenas por olhar,
mas olhar além do que é apresentado. Não sou nenhuma especialista no assunto,
mas trago em minha formação um pouco de conhecimento e gostaria de compartilhar
com vocês.
Fiquei extremamente
fascinada com o filme, “O melhor lance”, do Diretor Italiano, Giuseppe
Tornatore, produzido em 2013 e lançado em 2014. Categoriza-se em romance um
pouco dramático, tratando-se de um roteiro extremamente bem feito por envolver
o telespectador e deixa-lo curioso e, por fim, deixando a cereja do bolo para o
final que realmente é surpreendente.
A trama conta a história de um
apreciador de artes, leiloeiro de peças valiosas e antiguidades, chamado
Virgil, a qual recebe um telefonema de uma jovem herdeira, Claire, pedindo para
que ele inventariasse todas as peças que tinha em sua casa, pois as venderia. O
fato é que, boa parte da trama, ela fica escondida dentro do quarto alegando
ter uma doença e que não sai de casa desde os quinze anos. A situação da moça
comove o leiloeiro que começa a receber conselhos de um amigo para saber como
conquistar a confiança de Claire e como lhe dar com os sentimentos que passa a
ter por ela.
Primeiramente fiquei
pensando o que levou o Diretor a exibir os eventos desta história num ritmo
lento. Costumo dizer que os cinco primeiros minutos de um filme, tem que
encantar o telespectador que já está ansioso pela história. O Diretor utilizou
2hr10min para desenvolver os fatos, com cenas que poderiam ter sido adiantadas,
desta forma, classifico que é um tipo de filme constante.
Apesar de ser longo, não ter
cenas fortes para despertar emoções rápidas no telespectador e pouquíssima trilha
sonora, o diálogo estabelecido no roteiro é de fácil compreensão além de
criativo e eu diria que esta pitada misteriosa nas falas e na caracterização do
ambiente e dos personagens, é que prende as pessoas e os fazem pensar que
vale a pena esperar às duas horas de filme.
Antes de falar com precisão
da atuação dos personagens eu gostaria de ressaltar a caracterização do
ambiente, ou seja, a fotografia da trama. Eu simplesmente apaixonei pelo
cenário, pelos objetos, pela arquitetura e a iluminação que enquadrou perfeitamente na riqueza
de detalhes de cada canto do casarão, da vila, do parque, da casa do leiloeiro,
enfim, cada cantinho. Meu palpite é que esta possibilidade visual disponibilizada
tem haver com a origem do diretor que é Italiano e por isto, a fotografia tem características
europeias com cores predominantes acinzentadas e iluminação envelhecida, daí o
cenário escolhido.
No que diz respeito aos
personagens a caracterização foi muito bem feita, pois o leiloeiro bem sucedido
faz uso de roupas elegantes e cortes finos, é intelectual, postura intensa,
manias pessoais bem acentuadas como é o caso do uso das luvas e frequenta restaurantes
de alto padrão. A jovem herdeira, 27anos, faz uso de roupas leves e
confortáveis, cabelos soltos, aspectos de uma pessoa deprimida para exprimir o
sentimento de frustração que fazia parte de seu plano, envolvente, cara de anjo
e mente de demônio para fazer jus a sua atitude final que é o desfecho fabuloso
e inesperado, para confundir o espectador que acredita ser apenas uma
história de amor entre um homem mais velho, um amor maduro por uma jovem
indefesa.
Se observarem, vão perceber
que durante o leilão existe o personagem Billi, um senhor de barba branca, que
participa de todos os leilões e usa de trapaça juntamente com o leiloeiro, de
forma que ele sempre arremata as peças dando o melhor lance. Desde o inicio do
filme fiquei me perguntando o que ele tinha haver com a história, ou em qual
momento ele entraria no romance que se desenvolvia. As coisas começaram a fazer
sentido quando o quebra-cabeça começa a ser montado a partir da última
participação do personagem (01h49min) com um abraço de despedida entre os
amigos e a mensagem nas entrelinhas, de que talvez, esta seria a última vez que
eles se vissem e então, Billi sorri ironicamente e diz que mandou uma pintura
para que o leiloeiro lembrasse dele.
Todas as ligações que Claire
recebia de um tal Diretor, nada mais era do que este senhor “barbudo”, tramando dar o bote
final. Que caracterização suave, sutil, imagem plena de um trapaceiro e traidor
que traiu não apenas seu amigo leiloeiro, mas também a nós, quanto telespectador, que nada esperávamos dele, uma figura tão simples numa imensidão de coisas a
serem discutidas no filme. É mais ou menos aquela velha história, é de quem menos
esperamos é que vem a apunhalada.
Outro personagem importante
foi Robert, o amigo de Virgil, que ficou boa parte do filme dando conselhos
amorosos. Por alguns momentos a trama nos da a entender que ele vai se
apaixonar por Claire, mas não é isto que acontece. Só vim a entender a participação
efetiva dele, quando o leiloador chega em casa procurando por Claire e o
empregado diz que ela teria provavelmente saído, assim como um dia antes,
juntamente com Robert e a namorada para lanchar (01h50min). Quando Virgil
avista a pintura enviada por seu amigo Bill e decide guarda-la na sala aonde
guarda sua coleção valiosíssima de quadros, encontra apenas o vazio devastador,
um silêncio, uma decepção não apenas amorosa, mais abrangente, envolvendo
amigos.
A traição se estabelece
através da mensagem deixada por seu amigo Robert por uma engenhoca consertada.
É a explicação do ocorrido, aonde dizia: “Há
sempre algo autêntico escondido em cada falsificação, eu não poderia concordar
mais. Por isto, sinto sua falta, Sr Virgil”. Que final louco! Não na
intensidade das cenas, mas na intensidade do roteiro que quebra as
possibilidades de uma paixão e constata apenas um golpe praticado por uma
gangue, composta por Claire, Bill, Sara e Robert. Aonde é possível ter certeza
disto? Com o depoimento da anãzinha que ficava frente ao casarão (cena 01h55min)
ela revela que Claire saia com frequência do casarão (constatando que não havia
doença alguma e tudo se tratava de uma farsa), revelando ser ela a proprietária
do casarão e que havia alugado nos últimos dois anos a casa para um rapaz que
consertava de tudo e era galanteador (revelando ser Robert); ela menciona as
frequentes mudanças que ocorriam no imóvel (tempo que usavam para aplicar o
golpe).
E assim, a cena final é
apresentada a nós, cheia de particularidades com uma mensagem enigmática através
da decoração do restaurante, feita de engrenagens e relógios, muitos... muitos
deles! Imagino que esta brincadeira com o telespectador, nos faz pensar no
significado das engrenagens que só funcionam em pares e tem seu movimento
afetado caso algum dente esteja desencontrado um do outro. Se tudo estiver
ajustado, a velocidade e a potência são maiores e assim, o tempo da ação não é obstruído.
Robert, Sara, Bill e Claire
trabalharam em pares, ajustando seus planos assim como a engrenagem e obtendo o
êxito, em curto espaço de tempo – fator potência.
A conclusão que chego diante
de todos estes pontos é que, assim como na vida real estamos sujeitos a
desajustes em nossas engrenagens, afetando nossas relações e projetos,
automaticamente o tempo se torna fator preponderante para nossa cura ou para
nossa morte.
Creio que Virgil irá se
recuperar!
Fotos disponíveis no site Adoro Cinemas, com os respectivos autores das imagens, usadas apenas de forma ilustrativa. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-215942/ Acesso em 08 de Outubro de 2015 ás 22hr55min.
14 comentários:
Olá,
Gostaria de saber suas impressões sobre o desfecho "em aberto" no final deste belo filme.
Estaria o leiloeiro tramando uma vingança contra a "gang"? Repare que ele pouco antes desiste de fazer uma denúncia policial. Afinal ele irá se encontrar com a moça?
A história é muito cruel com o protagonista afinal são várias traições, não é mesmo?
Parabéns por sua análise!
Esse filme é muito bom ! Amei.
Demais esse filme. E no que fiquei perdido meio para final, muito bem esclarecido agora que li explicações suas a cima.
Odiei o filme!
Agora que li o final dele aqui que o Donald Sutherland era o tal diretor, tudo ficou mais claro. Obrigado por esclarecer
Não podemos esquecer que o caseiro também estava envolvido! Pois ele disse que a mulher e os pais moraram naquela casa a vida toda.
Gostaria de saber se na casa da Claire tinha mesmo objetos de valor.
Adorei a análise, ficou perfeita Nayara parabéns! Era o que eu desejava entender, só faltou responder a pergunta de Max.
Também gostaria que ela tivesse respondido o Max
𝑁ã𝑂 𝑇𝐼𝑁𝐻𝐴 , 𝑂 𝐷𝐼𝑅𝐸𝑇𝑂𝑅 𝐷𝑂 𝐹𝐼𝐿𝑀𝐸 𝐹𝐴𝐿𝐻𝑂𝑈 𝑁𝐸𝑆𝑆𝐴
𝑂 𝑃𝑅𝑂𝐵𝐿𝐸𝑀𝐴 𝐷𝐸 𝐴𝑆𝑆𝐼𝑆𝑇𝐼𝑅 𝑈𝑀 𝐹𝐼𝐿𝑀𝐸 é 𝑄𝑈𝐸 𝑂 𝐷𝐼𝑅𝐸𝑇𝑂𝑅 𝐹𝐴𝑍 𝑂 𝑄𝑈𝐸 𝑄𝑈𝐼𝑆𝐸𝑅 𝐶𝑂𝑀 𝑂 𝐹𝐼𝐿𝑀𝐸 𝐸 𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸 𝐴𝐼𝑁𝐷𝐴 𝑇𝐸𝑀 𝑄𝑈𝐸 𝐸𝑁𝐺𝑂𝐿𝐼𝑅 𝐼𝑆𝑆𝑂
Serà que Claire não se refere à essa estória qndo diz ao telefone, para o diretor, que está querendo reescrever o último capìtulo? Não teria ela se apaixonado realmente por Virgil? E a fala dela de que, independente do que acontecesse, ela o amava? Não seria uma prova disso e, por isso, ele foi esperá-la no restaurante em Praga? Ou isso seria justamente para fazê-lo esperar e não denunciá-la? Fica a duvida! Tmbm gostei mto do filme e sofri com ele.
Como ele enganava a muitos com os leilões, o diretor do filme quis dar o troco no protagonista, que enganava pessoas. Assim sentiu na pele ! Filme nota 1000
Muito bom o filme. Leiloeiro impecável! Ao final desconfiei de todos, mas não acreditei.
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